O inferno É ou SÃO os outros?
Rigorosamente, seria um caso facultativo: “Tudo é flores” ou “Tudo são flores”.
A realidade, porém, tem nos ensinado que a preferência pelo plural é incontestável. Entre o singular e o plural, o verbo ser concorda no plural:
“O inferno são os outros.”
“O resultado da pesquisa são números assustadores.”
“A prioridade do governo são os pobres.”
“O maior problema do Rio de Janeiro são as chuvas.”
“Estes dados são parte de um relatório confidencial.”
Solicitamos um talão ou caderno de cheques?
No Brasil, usamos talão de cheques. Talão de cheque pode ser também o cheque solitário, e não necessariamente o talonário.
Um milhão de reais foi gasto ou foram gastos?
As duas formas são aceitáveis.
Prefiro a concordância com o especificador:
“Um milhão de reais foram gastos neste investimento.”
“Um milhão de vacinas foram retiradas do mercado.”
“Um milhão de mulheres estão grávidas.”
Autocuidado ou auto-cuidado?
Segundo o novo acordo ortográfico, com o prefixo auto, só devemos usar hífen se a palavra seguinte começar por “h” ou por vogal igual: auto-hipnose, auto-observação…
Com as demais letras, devemos escrever sem hífen ou, como se diz popularmente, “tudo junto”.
Com as consoantes “r” e “s”, deveremos dobrar o “r” e o “s”: autorretrato, autosserviço…
Com as outras vogais, não haverá mais hífen: autoajuda, autoestima, autoanálise, autoatendimento…
Se a palavra seguinte começar com qualquer outra letra, devemos escrever sem hífen, como sempre foi: autobiografia, autocontrole, autocrítica, autodeterminação, autogestão, automedicação, automutilação, autopromoção…
Segundo a regra, deveríamos escrever “autocuidado”. O problema é que não há registro da palavra no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Dia a dia ou dia-a-dia?
Antes do novo acordo ortográfico, a regra era a seguinte:
a) Devíamos escrever sem hífen quando “dia a dia” significa
“diariamente” (=expressão adverbial):
“Sua fama cresce dia a dia.”
b) Devíamos escrever com hífen quando a expressão “dia-a-dia”
aparece substantivada (=cotidiano):
“Os atletas falam do dia-a-dia na semana decisiva.”
Segundo o novo acordo, palavras compostas que apresentem elementos de conexão só terão hífen se forem nomes ligados à zoologia ou à botânica: joão-de-barro, copo-de-leite…
Os demais compostos não terão hífen: dona de casa, fim de semana, lua de mel, pé de moleque, cara de pau, pé de cabra, passo a passo, disse me disse, sobe e desce…
Assim sendo, DIA A DIA não terá mais hífen quando usado como substantivo, com o sentido de “cotidiano”:
“Isso tudo faz parte do dia a dia do carioca”.
O uso do pronome LHE
Leitor nos escreve: “Como nordestino uso muitas vezes o pronome “lhe”. Pergunto: quando usá-lo?”
O pronome “lhe”, como complemento verbal, substitui os objetos indiretos:
“Eu não lhe obedeço.”
“Eu devo dizer-lhe a verdade.”
“Eu lhe entreguei os documentos.”
Quem decide se o objeto é direto ou indireto é o verbo. Em caso de dúvida, vá ao dicionário. Lá você vai encontrar a regência do verbo (=se pede preposição ou não).
Quem obedece obedece “a” alguém. Obedecer é um verbo transitivo indireto, por isso “eu não lhe obedeço”.
A forma “eu lhe amo” deve ser evitada na língua padrão, porque o verbo amar é transitivo direto. Pede objeto direto, por isso não poderíamos usar o pronome “lhe”.
Fonte: G1