O certo é OBRAS-PRIMAS.
Se a palavra composta, com hífen, é constituída de um substantivo e um adjetivo (ou adjetivo + substantivo), os dois elementos vão para o plural: altas-rodas, altos-fornos, altos-relevos, amores-perfeitos, batatas-doces, boas-novas, boias-frias, cabeças-chatas, cachorros-quentes, dedos-duros, guardas-civis, matérias-primas, meias-luas, meios-fios, ovelhas-negras, peles-vermelhas, puros-sangues…
OBRAS-PRIMAS e PROTAGONISTAS?
Leitor quer saber se está correto o uso das palavras obras-primas e protagonistas? “Não são palavras que definem uma condição de exclusividade, ou o uso se modificou a ponto de designar as obras ou os personagens mais importantes?”
Vejamos o que está registrado em nossos dicionários:
1ª) Obra-prima: “obra primorosa, das primeiras no seu gênero, obra
capital, a melhor obra de um autor, obra mestra” (Caldas Aulete); “obra que é das primeiras em seu gênero, a melhor obra de um autor” (Michaelis).
O uso está realmente modificando o sentido original da palavra, ou
seja, obra-prima deixa de ser a obra maior de um autor para tornar-se sinônimo de qualquer grande obra, de obras importantes. Isso não me agrada. Prefiro respeitar a origem da palavra. Rigorosamente, cada autor só tem uma obra-prima.
2ª) Protagonista: “pessoa que em uma peça teatral representa o
principal papel” (Caldas Aulete); “principal personagem de uma peça dramática” (Michaelis).
Originariamente, protagonista só havia um. A culpa da “pluralização dos protagonistas” só pode ser das modernas telenovelas.
Que uma telenovela tenha mais de um protagonista, “dá pra engolir”. Entretanto, não esqueça que protagonista principal é redundante e protagonista secundário não existe.
CURIOSIDADES
Carta de leitor: “Recentemente escutando uma rádio, pude observar o locutor dizendo: ‘Nossos preços são terríveis para concorrência’. Fiquei imaginando: 1. Os preços são tão ruins (altos) que são terríveis para a concorrência; 2. Os preços são terríveis para a concorrência, de tão baixos, assusta. Creio que o item 2 deva estar certo. Pelo menos, deve ser isso que o anunciante deve estar querendo passar. Mas não ficaria melhor dizer simplesmente que nossos preços sãomenores que o da concorrência.”
É óbvio que a segunda interpretação é a que traduz a intenção do anunciante. Quanto à ambiguidade da frase, isso é frequente em linguagem publicitária. E é intencional. A linguagem de duplo sentido é uma das maneiras mais eficazes de atrair a atenção dos clientes.
A ambiguidade é ruim em situações sérias. No famoso e triste episódio do Banco Marka, ouvimos alguém do Banco Central afirmar: “Conseguimos a melhor cotação do dólar”. Resta saber, melhorpara quem?
Voltando às curiosidades.
Outro leitor acha estranha a história do exame médico. O paciente faz exame para saber se o tumor é maligno. Responde o médico: “Deu positivo”. Infelizmente o resultado do exame não é “positivo” para o paciente. Para ele, não é uma boa resposta. No caso, positivo significa que o tumor realmente é maligno.
Outro leitor pergunta: “É comum ouvir-se a expressão aniversário de 6 meses de uma empresa, ou aniversário de 3 meses de namoro. O uso de aniversário para designar outros intervalos de tempo que não o anual é aceitável?”
Nosso leitor internauta tem razão. Aniversário vem do latim anniversarius e significa o “que volta todos os anos, anual”. Portanto, “aniversário de 6 ou 3 meses” só se for no sentido metafórico. Rigorosamente é uma incoerência, a etimologia (=origem da palavra) está sendo desrespeitada. Isso me fez lembrar a sugestão de um amigo, encantado com o sucesso da última bienal do livro. Segundo ele, a bienal do livro deveria ocorrer todos os anos. A ideia é boa, mas a primeira providência será a troca do nome. Bienal é só de dois em dois anos.
Outra curiosidade é a dúvida de uma leitora: “Ouvi de um personagem de novela: ‘Me inclua fora dessa’. É correto? Pode haver inclusão na exclusão?”
É lógico que não. Mas, provavelmente, deve ter sido usado ironicamente. Deve ter sido uma brincadeira. A frase ‘Me inclua fora disso’ já virou piada. É bom não levá-la a sério.
E, para terminar, a “pérola” de um aluno: “Aquele cara tem o corpo todo malhado porque toma muito asteróide.” Sem comentários.
DESMISTIFICAR ou DESMITIFICAR?
DESMISTIFICAR = “desfazer uma mistificação ou impostura. Desmoralizar-se, desmascarar-se.” (Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa, elaborado por Antenor Nascentes)
DESMITIFICAR = “desfazer a mitificação existente acerca de pessoa ou coisa.” (Dicionário Larousse)
Os dois verbos estão registrados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, entretanto o verbo DESMITIFICAR não aparece em muitos dicionários.
A diferença prática, no meu modo de ver, é a seguinte:
DESMISTIFICAR é “acabar com uma farsa”;
DESMITIFICAR é “deixar de ser mito”.
Fonte: G1