Publicamos outro dia nesta coluna: “Não há crase antes de palavra masculina”. Entre os comentários recebidos estava uma crítica de um leitor. Veja: “Acredito que há exceção a esta regra, tanto no que se refere a expressões que denotam modo/moda (Filé à Osvaldo Aranha) quanto no uso do pronome demonstrativo “aquele” com verbo que peçam a preposição “a” (Dedicou-se àquele amor por toda a vida).”
Os exemplos analisados pelo leitor estão corretíssimos. Devemos usar o acento da crase nos dois casos.
Quando dizemos que não há crase antes de palavras masculinas, estamos fazendo referência ao caso mais frequente da crase (preposição “a” + artigo definido feminino “a”). Antes de palavra masculina, é impossível haver o artigo definido feminino: “Andar a pé”; “Vender a prazo”; “Falar a respeito disso”.
Não devemos confundir uma “dica” com regras. Os dois exemplos citados pelo leitor não são exceções. São apenas casos diferentes.
PERCENTAGEM ou PONTO PERCENTUAL?
Leitor quer saber: “Qual é o significado de 2 pontos percentuais? Não seria simplesmente 2%?”
Percentagem e ponto percentual não são sinônimos. Não tenho culpa. É a “matemática” da vida.
Vou responder com um exemplo bem simples. Vamos imaginar que a inflação subiu de 2% para 4%. Isso significa que a inflação subiu 100% ou 2 pontos percentuais.
Vejamos outro caso. A inflação subiu de 2% para 3%. Agora o aumento foi de 50% ou de 1 ponto percentual.
0,5 PONTO ou PONTOS?
Leitor quer saber se a concordância se faz no singular ou no plural.
Vou responder com uma pergunta: como você diria se fosse 1,5? A maioria diria “um ponto vírgula cinco” ou “um ponto e meio”. Para 2,5, diríamos “dois pontos vírgula cinco” ou “dois pontos e meio”. Parece claro que o ponto se refere ao número que vem antes da vírgula. Assim sendo, eu diria “zero ponto vírgula cinco” ou simplesmente “meio ponto”. Prefiro, portanto, 0,5 ponto.
E AGORA, DICAS DE… INGLÊS!
Na última coluna, falamos a respeito de erros gramaticais em mensagens publicitárias.
Quero voltar ao assunto, mas com outro enfoque. Vamos analisar alguns textos usados em algumas propagandas antigas de cursos de língua estrangeira:
1a) Um pirata, para aprender inglês, repete o famoso “the book is on the table”, obedecendo às ordens do papagaio que insiste com o seu chatíssimo “repeat”. Meia hora depois, o timoneiro conclui: “É preciso mudar o curso”.
Nesse exemplo, o interessante é observar a ambiguidade intencionalmente criada pelo uso da palavra “curso”, que apresenta duas claras interpretações: “mudar o curso a ser seguido pelo barco pirata” e “mudar o curso de inglês”, ou seja, buscar um outro curso que ofereça novos métodos de ensino de língua estrangeira. Sem as repetições impostas pelo papagaio pirata.
2a) Um personagem, que teria sido devorado por canibais numa propaganda do mesmo curso de inglês no ano anterior, reaparece num deserto e encontra uma lâmpada. Dentro está uma “gênia” do tipo Feiticeira que só fala inglês. O nosso personagem, que já morrera no ano anterior por não saber falar inglês, fica novamente em apuros. Louco para libertar a sua Joana Prado, pergunta como “open” a garrafinha. E ela ensina: “push, push”. O nosso herói não hesita, e puxa. Os dois terminam juntos dentro da garrafa. Não entendi a cara de desespero do herói. Afinal, juntos dentro da garrafa, ele terá a eternidade para aprender a falar inglês.
Não sei se é verdade, mas ouvi história semelhante numa grande empresa onde há muito tempo dou meus cursos de “redação, atualização e reciclagem”. Dizem que um “grandão” de três metros de altura por dois de “largura”, candidato a uma vaga de segurança, foi até a empresa para a entrevista de seleção. Lá as portas são de vidro, e está escrito com letras garrafais para ninguém se enganar: “PUSH”. O grandalhão puxou uma, puxou duas e na terceira vez usou o que tem de melhor: a sua força. Ficou com a maçaneta na mão. Você pode imaginar como ficou o vidro da porta. Triste mesmo foi ver aquele homenzarrão chorando porque fatalmente perderia o emprego.
Tanto essa historinha quanto a propaganda mostram a necessidade de se conhecer a língua inglesa. E como é perigoso usar palavras cujos sons são semelhantes, mas com sentidos bem diferentes: “push” parece “puxe”, mas significa “empurre”.
Quanto à propaganda, tudo bem. Afinal, o curso de inglês tem de convencer os seus clientes de que precisam conhecer bem a língua inglesa.
Por outro lado, a empresa brasileira que escreve “push” nas suas portas de vidro merece mesmo é vê-las quebradas. Demitido deveria ser quem mandou escrever tamanha besteira. Digo e repito: usar termos ingleses desnecessários é macaquice.
3a) Outro curso de inglês, para valorizar o seu produto, afirma: “No atual mercado de trabalho, para quem não souber inglês, só vai sobrar o de mímico”.
Eu só quero saber o que vai sobrar para quem não souber nem o português.
Um aviso aos estudantes. Todos sabem que inglês e informática se tornaram exigências básicas para qualquer profissão. Devido às minhas andanças por este vasto país, por ter dado cursos e palestras em mais de 100 empresas, por ter ouvido muitos dirigentes e responsáveis pelo setor de Recursos Humanos, hoje eu tenho mais uma certeza. Anotem outras duas exigências: português e matemática financeira.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário